terça-feira, 7 de abril de 2009

Esforço para esquecer.

Os detalhes do que ouvi, o que eu senti naqueles 20 minutos de terrorismo e que eu nunca tive passado até então não saem da minha cabeça. Ontem (segunda-feira) passou como se não tivesse sido, nem percebo que hoje já é terça. Estou com tantas coisas para resolver mas a vontade passou. Parece que o esforço que tenho feito para crescer profissionalemnte não me valem de nada, se o que me aconteceu, pode acontecer de novo, em qualquer lugar a qualquer momento. De que vale eu me esforçar? Eita inércia....

Domingo, um sol bonito, com certeza a maioria daqueles que eu conheço estavam com a família, ou na praia, ou dormindo... sei lá. Enfim, fazendo coisas que pessoas normais fazem. Mas eu não. Estava com mais duas pessoas queridas trabalhando, ganhando a vida e perdendo o "domingo". Honestamente. ..
Havia necessidade de se fazer este trabalho no domingo? sim. Havia. O nosso tempo estava curto.
Daí que ocorre que a vida que eu levo é boa, que eu tenho tudo que preciso para viver feliz e mais ainda, daí que os problemas sociais que o nosso país possui, incidem diretamente sobre nós: cidadão honestos, que nem sequer um cd pirata tem coragem de comprar!
Daí que nós que estávamos ali, finalizando nosso trabalho num lugar não tão ermo, mas perigoso. Um trabalho chato, pegando chuva, fazendo calos nos pés em botas de borracha apertadas, almoçando sanduíche, bebendo água morna, arranhando os braços em tiririca e queimando em cansanção.... (Mas somos biólogos de campo, passamos por isso sempre, e não reclamamos, faz parte da paixão!)
Mas não faz parte sermos abordados por vagabundos. Não faz parte ficarmos com medo. Imagine você que tem uma vida dentro de um escritório, ficar com medo o dia inteiro achando que a qualquer momento um maluco pode aparecere te fazer mal? e se você for mulher? pior ainda!
A sensação de impotência que sentimos no momento que tivemos três armas apontadas para as nossas três vidas, enquanto o nosso suor de anos de trabalho foi levado para ser vendido por alguns trocados... não será fácil esquecer.
E assim passa um filme na minha cabeça: o esforço que tivemos durante aqueles três dias de trabalho, o esforço que tivemos para adquirir este conhecimento sobre a fauna e sobre a flora que nos fazem bons profissionais, e requisitados. O esforço que fazemos diariamente, nadando contra a corrente do não ter dinheiro para comprar nossos equipamentos para trabalhar, o carro, o celular, a máquina fotográfica... porque ser um bom biólogo hoje e ganhar bem é questão de sorte e muito esforço.
Mas não adianta falar isso para as pessoas atingidas pelo o que há de errado em nosso país. Eles não vão ouvir, nós somos os errados ali, estamos dando sopa! não adianta ser honesto. não adianta ser uma boa pessoa. não adianta dizer que está só trabalhando... nada vai adiantar.

E depois de vinte minutos passados e você assistindo suas coisas serem levadas sem o menor escrúpulo, os marginais vão embora... O que sobra ali são lágrimas, adrenalina e nada. E o que fica agora são as péssimas lembranças de que nada além de matéria foi levada, e que sua vida e seu corpo estão intactos. E que no final nada aconteceu....

Um comentário:

  1. Sei exatamente como está se sentindo, eu já passei por isso. Também sei que fica um sentimento de revolta por não merecermos passar por isso, ou até por acharmos que tem tanta gente FDP que merecia e não passa. Mas com o passar do tempo essa raiva passa e ficará apenas a vaga lembrança e por incrível que pareça a certeza de que poderia realmente ter sido pior, e ficará também a dor de sermos obrigados a viver no mundo de Pollyanna brincando do jogo do contente...

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